Um Conto Descontraído sobre Idolatria



Existia um homem, que morava no bucólico interior do nosso País. Seu pai era Lavrador, e tinha uma pequena propriedade rural; e como diziam os populares do vilarejo, depois que o “Véio Bateu as Botas!” - Que só depois vir, a saber, que significa morrer no dialeto daquela gente - deixou para Lucrécio da Santa Consolação, alguns acres de fortuita herança, para que o mesmo, através da cultura de subsistência, vivesse e sustentasse a sua família de apenas oito filhos.

Sua mulher, Maria da Virgem Maria (Vixe Maria!), vivia a reclamar que os Bananais que a família cultivava, estavam sendo saqueados, e a produção, devorada a cada dia. Maria ia ver se tinha banana madura para fazer bolo, Não tinha. Maria ia ver se tinha banana para dar para aos meninos, não tinha. Maria ia ver se tinha banana para comer com Café (?), não tinha.  Maria tinha que tomar uma atitude, e para o azar de Lucrécio, isto colateralmente, teria a sua ajuda. Ela já tinha uma suspeita, de quem estava fazendo a balbúrdia em suas terras. Dizia para Lucrécio: - Isto quem tá fazendo eu sei! É aqueles macacos de “Venta Virméia” (Nariz Vermelho) que vive nas bandas perto do rio. Vai lá é dá um jeito de espantar os Macacos! - Dizia Maria com tom ameaçador - O mesmo coçava a cabeça e dizia: - Vou ver Muié! Deixa comigo!

De fato Maria estava certa. A produção estava sendo consumida por Macacos de Narizes vermelhos avantajados, que todos os dias, tomava de assalto a Plantação, e comia as Bananas de Lucrécio. Mas ele ainda não sabia disto. Um dia, Lucrécio, ficou de espreita, esperando para ver, quem iria aparecer para roubar os “Pés” de Banana. Foi quando ele viu um bando de Macacos, que chegava, e tirava cachos e mais cachos de Bananas. Alguns no ímpeto de felicidade e curiosidade testavam primeiro em suas entranhas, o tamanho da banana antes de comê-la, para só depois, engoli-la, com violência. Lucrécio andou dando uns tiros para o ar, mas os macacos não se intimidavam, e logo, voltavam para os Bananais. Foi então que Lucrécio teve uma ideia.

Tirou a casca de uma cajazeira, e fez dela, um boneco, que segundo ele, era para representar uma espécie de “Chefe dos Macacos”, e que na sua ideia, iria por certo, espantar os símeos de sua propriedade. Passou uma semana inteira trabalhando no seu invento. Depois de algum período, orgulhoso de seu trabalho, levou o boneco, já pronto, para que Maria admirasse o tamanho do seu talento, na arte de fazer macacos de madeira. Ele chegou a Maria de Disse: - Muié! Eu já tenho a solução para espantar os macacos! - A Mulher de Lucrécio esbaforida, veio ver com urgência, o tamanho da astúcia do seu marido. Lucrécio tirou do saco, o Macaco de madeira e mostrou para sua mulher, que ao vê-lo, não conteve o riso e caiu na gargalhada! Lucrécio sem jeito, não sabia o porquê de tamanho vilipêndio, e perguntava insistentemente - O que foi? O que Foi? - a mulher tentando controlar o ataque de riso, somente apontava para o boneco e dizia: - O nariz... O Nariz - e novamente caia em uma gargalhada impertinente. Foi então que Lucrécio se atentou. Ele quis fazer o Nariz avantajado do Macaco, para que se parecesse com os mesmos, só que, avantajou tanto, que já parecia outra coisa. E como os seus dotes de “Aleijadinho” não era dos melhores, a ponta do nariz do macaco de madeira, se assemelhava, e muito, com um enorme órgão sexual masculino. Lucrécio desapontado berrava para a mulher, dizendo: - Tu vai ver! Os macacos vão morrer de medo do meu boneco! - A mulher já tentando se recompor, dizia ainda sorrindo:  - Só se for as Macacas!, E caía na gargalhada de novo.

No outro dia, Lucrécio levantou bem cedo, e levou o macaco ao lugar estratégico. Botou o boneco lá, e foi embora para a sua casa, confiante de que seu truque iria funcionar. Na noite do dia em que Lucrécio deixara o Macaco de Madeira, choveu muito forte, e quando amanheceu o dia, o mesmo foi conferir se as bananas ainda estavam sendo surrupiadas, e teve uma grande surpresa: Todos os macacos estavam lá, do mesmo jeito, e o boneco não mais se encontrava, no local em que Lucrécio havia deixado. Na noite anterior, a chuva veio e encheu o rio, e o seu bananal era na margem do mesmo. No rio encher, levou consigo a obra de Arte de Lucrécio, que desanimado, pensava não ter mais solução para o seu, terrível imbróglio.

Voltou para casa e deu a plantação como perdida. Passado alguns meses, os Macacos não mais quiseram comer só banana, e passaram a invadir a casa de Lucrécio e outras plantações da família. O mesmo, vendo sem saída, mas muito religioso, via somente na ajuda de um Santo, para “Acudir” a situação. Foi Quando ele ficou sabendo de um grande rumor, que corria pelas redondezas, de um Santo Milagroso, que resolvia qualquer problema. Era só rezar nos seus pés, se benzer, e o resto o santo cuidava de tudo. Esperançoso, Lucrécio comentou para a mulher, que iria, visitar esta capela, com este Santo Milagroso novo de que todos falavam.

A Capela não era muito longe, era só descer o rio, uma “Cerca de duas e meia léguas” como ele assim calculava; o separava do salvador de seus problemas. Desceu o rio, e ao chegar, ficou admirado, de tamanha procissão que se havia formado, somente para ver o Santo. Todos cantavam cânticos ao Santo, rezavam de rosário nas mãos. Ele viu alguns já testemunhando da graça alcançada, por intermédio do Santo Milagroso. Lucrécio tentava se aproximar, do Santo, mas a multidão era tamanha, que ela mal consegui se manter de pé. Via ao longe, pessoas chorando e fazendo pedidos ao Santo; que diziam atender prontamente qualquer pedido! Foi chegando perto do Santíssimo, quando esbarrou em um vendedor de “Fitinhas do Santo”. O mesmo disse para ele que era bom ele comprar, pois a mesma dava bastante sorte, na hora de interceder, junto ao ser supremo. Lucrécio prontamente comprou a fita, e amarrou-a em seu pulso. -Isto é para dar sorte – Pensava Ele - Foi então que ele teve o ímpeto, de ainda mais conhecer o milagreiro, e começou a afastar o pessoal, rispidamente. Correu, empurrou, pulou, até que finalmente, depois de levar um contra empurrão, violento, caiu ajoelhado, aos pés do Santo Milagreiro. Ele tirou o chapéu em sinal de respeito, e com os olhos ainda fitados no chão, levantou a cabeça devagarzinho, até ver enfim, o famigerado Santo. Ele levou um tremendo susto! Ele gritava em desespero - Ele! Ele - e multidão concordava em uníssono coro angelical - Sim É ele! Sim É ele! - Lucrécio estava atônito, e de todas as formas, tentava terminar a frase, mas só consegui balbucia as palavras: É ele! - até que finalmente a multidão se calou, pois havia chagado no recinto, o Padre da Paróquia. Coincidindo em estar bem próximo a Lucrécio, quando este finalmente conseguiu terminar a frase e gritar a todos os Pulmões: - É ele! O macaco de Pau que eu fiz, com Nariz de P****! - A multidão, inclusive o Padre, ficou indignada com a postura de Lucrécio, diante de tamanha divindade, e o expulsaram da procissão, dizendo que ele estava louco ou que tinha bebido cachaça demais.

Colocam-no em seu barco, e o aconselharam a não mais voltar para a Missa, preocupados com a sua integridade física. Lucrécio voltou para a sua casa, e contou o ocorrido, para a sua mulher, que se esfacelou novamente em uma gargalhada primitiva. Depois, Lucrécio ficou sabendo do ocorrido: Na noite da chuva forte, em que o rio levou a sua obra de arte, o Padre da Paróquia, que vivia a algumas léguas abaixo do rio, saiu de dentro a Igreja em desespero para rezar para a chuva parar. Foi quando ele avistou um objeto boiando na água do rio, vindo em sua direção. Ele afirma que no momento em que abraçou a imagem, rapidamente a chuva se desfez, e tudo ficou calmo. Atribuiu então, o milagre, à imagem.

Hoje, Lucrécio ainda tenta conviver com os macacos que devoram a sua produção. Ouviu alguns rumores de que o Santo seria transferido para uma Capela maior na capital, pois a quantidade de romeiros, para visita-lo, era muito grande, para a capela da pequena vila em que morava; e que a mesma, não comportava tamanha, manifestação de “Fé Cristã”. Lucrécio disto tudo, só se envergonha do feito; e de vez em quando, olhando os macacos devorarem as suas bananas, olha para o Céu, e tira do Bolso a fitinha que tinha comprado na procissão, pensa: - Sei lá, talvez dê sorte Mermo! - Olha novamente para os macacos e ostenta para os mesmos, a fita do Santo que leva a inscrição, o nome do Santo, chamado; Santo Símeo, ou São Simeão, para os mais devotos.


Esta é uma Obra de Ficção, e qualquer coincidência com a realidade, é mera coincidência mesmo. Foi uma forma, bem humorada, de tratar um assunto muito sério, que é a idolatria nos dias de hoje.

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